segunda-feira, 19 de maio de 2008

apresentação

A proposta artística que a seguir se apresenta é o resultado vários meses de investigação e de trabalho multidisciplinar, durante o ano lectivo de 2007-2008, cuja orientação foi dada pelo professor e compositor Eli Camargo Jr na forma de atelier, ou workshop, na Escola de Música do Conservatório Nacional. A concretização desse trabalho, reflectida já numa apresentação pública das obras (no Instituto Superior de Psicologia Aplicada, havendo outras apresentações agendadas para outros locais), teve como objectivos primeiros o desenvolvimento de certas áreas das quais o público geral tem uma enorme curiosidade mas que são, de facto, pouco difundidas no panorama contemporâneo da música portuguesa.
Uma dessas áreas consiste na exploração de novos âmbitos tímbricos no interior do piano, esse instrumento por todos nós já tão conhecido, idealizado e estereotipado. Salvo algumas famosas, cimeiras e interessantes incursões no mundo do piano-preparado por John Cage, ou, por exemplo, numa singular procura de novas sonoridades por George Crumb, todas as restantes propostas parecem tímidas e pontuais. O piano contemporâneo continua a ser, grosso modo, um instrumento clássico na sua técnica e no uso dos seus recursos, e todo o enorme manancial que o seu interior reserva continua escassamente descoberto ou, no mínimo, pouco divulgado. Deste modo, bartroque constituiu-se trio e partiu nesta fascinante viagem sonora. Edward Pinto, piano, André Hencleeday, piano-dentro, e Fábio Boavida, guitarra, aliaram a estranheza e o exotismo inerente às características do trio à aliciante sedução das possibilidades musicais a descobrir e criaram, cada um, uma obra, fruto da sua investigação e descoberta. Como, por absurdo, para uma viagem não se parte senão de um cais, ancorámos os nossos princípios conceptuais em citações (estruturais, motívicas ou atmosféricas) a incontornáveis universos da arte do século XX: o de Béla Bartok, e o do rock.
O outro projecto que este atelier acolheu diz respeito à ligação entre as artes plásticas e a música. Aproveitando a experiência artística de Edward Pinto na área das artes visuais e da música partiu-se então à descoberta dessa outra pouco explorada área: som e imagem enquanto entidades em diálogo mútuo e indissociável. Deste modo, e recolhendo algumas ideias-base em teóricos como Kandinsky e em curiosos exemplos de eminentes sinestetas, desde Scriabin a Messiaen, passando por Klee ou Rismky-Korsakov, a composição das obras tomou o seu caminho próprio de procura e descoberta. O resultado tomou forma em duas obras, cada uma com respostas diferentes ao problema, mas iguais no que respeita aos materiais: o fagote e a tinta-da-china (projecção de imagens), a serem interpretados por Daniel Faria e Edward Pinto.
A mostra dos trabalhos totaliza cerca de 60’, e é acompanhada de uma explicação específica, por parte dos compositores, acerca das suas obras e dos objectivos a que, com elas, se propuseram alcançar.

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